Dias de chuva são bonitos. Tão bonitos quantos dias de sol podem ser. Eles tornam você predisposto a esquecer os grandes planos da vida e parar na janela para ver a água cair. Você não quer problemas agora, só precisa se preocupar em não deixar o café esfriar.
É engraçado, o frio aproxima de certa forma as pessoas. À ponto de conseguir contar a respiração delas... Como se o cinza e a melancolia que predomina nas ruas precisasse ser compensado com calor de gente. Mas cobertores e cappucinos também cumprem essa missão com maestria.
Antagonicamente, tenho vontade de andar e peceber o quão gélido anda o mundo quando o vento passa por dentro do capuz. A minha necessidade de que estejam perto é maior, porém é inversamente proporcional a minha vontade de gritar-lhes isso.
"Não esquece o casaco!" A moça aqui do lado sempre grita isso quando seu filho tá indo pra escola. Qualquer dia eu vou perguntar a ela se, por obra do acaso, não teria um que não deixasse as pessoas congelarem por dentro. Tenho receio da resposta.
Que a beleza do meio me inunde. Qualquer esforço pra compensar a erupção interna com a calmaria de fora é aceito. Quero ouvir o ensurdecedor, ele ajuda a calar as vozes byronianas que me acordam e que me levam para a cama. Quero provar o amargo, sem o qual o adocicado não teria qualquer atenção e seria corriqueiro. Falar também, mas aquilo que não é qualquer um que ouve.
O mundo, imagino, é repleto de oásis prontos a acalmar o espírito do menino confuso e medieval. Talvez não seja fácil encontrá-los. Aliás, difícil mesmo é conseguir calar os ruídos externos para percebê-los... Mas o rapaz consegue. Hoje pode ser que não, mas isso não é nada pra quem tem a eternidade. E não adianta contar isso tudo ao menino, ele não entenderia...
Na verdade, o tempo é uma ilusão. Quando se espera que as coisas passem rápido, elas se tornam eternidade. Quando há vontade de perpetuar algum instante, ele acelera de tal forma que torna-se memória logo que se dá conta. Perderei anos, se me parecer interessante. Correrei com tudo para sentir a vida passar mais devagar, se me for conveniente. Falo de tempo que se sente, não que se conta no relógio...
"Todos os dias, quando acordo, não tenho mais o tempo que passou. Mas tenho muito tempo... Temos todo tempo do mundo."